quinta-feira, 12 de março de 2009

Se me trazes girassóis...


Se me trazes girassóis,
se me lembras girassóis,
se os trazes no bolso em segredo...
Sem que se saiba...
Oferece-me girassóis,
traz um molhinho, pequeno, desarranjado,
ou traz só um.
Oferece-me um girassol!
Um que seja, para enfeitar a parede da casa onde não vens,
para calar o silêncio que me ensurdece...

Traz uma folha,
uma pétala,
mesmo no bolso...
Já murcha, seca.

Traz e deixa-a na minha mão,
como um dia te deixei os olhos, a boca, a alma
e mais qualquer coisa que não sei precisar,
mas de que preciso agora, para seguir...
(Ana Ademar)
Chorarei oceanos de tristeza para renascer em um belo haute couture de mar, saída das águas como Iemanjá...
Nós temos cinco sentidos: são dois pares e meio de asas. - Como quereis o equilíbrio?

Alice caindo... by Barnaby Ward.
Just like me... now.
Caindo através do tempo...
Do espaço...

Following the white rabbit...



“Ama-se, angustiadamente, o vestido pendurado da amante ausente. O vestido íntimo e caseiro. E haverá mais verdade na companhia de tal vestido (morto como um vestido) que, adiante, nos braços de uma nova mulher.
Os sentimentos das nossas constantes paixões!
Enlevo, carinho, generosidade, sacrifício.
Infelizmente, porém, por mais que se tenha feito para negá-lo, o verdadeiro amor é aquele que nos abrange e nos vence como um vício. Nunca se diga que o amor é fácil, antes de vivê-lo como um vício.”
(Trecho do diário do Antonio Maria)

Eu não nego, o amor como um vício é viciante.
Dói.... Mas também liberta!
Então muito melhor sentir tudo que há, do que estar vazio.
Entrei na alcova do coelho...
"Follow the white rabbit, Alice."

Mercury drops labyrinth.


"(...) fiquei tentando colocar a gota de mercúrio dentro do labirinto. Continuei a tentar no avião, mas as sacudidelas faziam a gota esbarrar contra as paredes da caixa e partir-se em infinidades de novas gotas. Tentei no táxi, impossível. Colocar a gota inteira dentro do labirinto, sem que se dividisse em muitas outras, exigia concentração absoluta e quase total imobilidade. Esperei até chegar em casa, de repente tinha-se tornado questão de vida ou morte conseguir aquilo. De vida ou morte era exagero, mas de sanidade ou loucura não. Chegar ao centro, sem partir-se em mil fragmentos pelo caminho. Completo, total. Sem deixar pedaço algum pra trás."

Caio Fernando Abreu.

Mercury drops... eu fui em uma festa no final de semana passado na casa de minha amiga Reggie, acabei dormindo por lá, acordei no domingo, e me deparei com aquelas coisinhas de fazer bolhas de sabão. Eu comentei com o Daniel (marido da Reggie) sobre brinquedos antigos enquanto tentávamos fazer bolinhas dentro de bolonas de sabão (tentamos o dia todo, mas só na hora de ir embora que deu certo). E me lembrei que adorava aquela gota de mercúrio dentro do labirinto de plástico, achava aquilo lindo! Comecei a procurar na internet pra comprar, mas deve ter sido proibido por ser tóxico essas coisas... E encontrei esse texto. A partir dele encontrei poemas portugueses.... e talvez assim tenha me encontrado também.

Estou apaixonada no momento, por algumas poucas pessoas, por muitas coisas, por minha nova cidade, e pelos meus novos desejos e anseios...
Preciso de algo lúdico, para equilibrar os parafusos soltos. Como não encontrei meu labirinto com gota de mercúrio, crio o meu próprio pra brincar, e como não sou egoísta, divido isso com todos que se interessem.
Repartindo-me em várias, e unindo tudo de novo, no centro...
Fluida, metálica e principalmente:
Tóxica.