segunda-feira, 10 de março de 2014
Nada, nada.
Lembro de ver o filme "Neverending story", onde me assustou a idéia do "nada", um grande nada, destruir idéias e sonhos.
Nada assusta mais que o vazio.
Vazio.
Melancolia e dor ainda produzem imagens belas e atrativas... bobagens românticas também. Mas o vazio. O Nada. Nos devora a alma.
Não dá vontade de voar, nem de gozar, nem de viver, nem qualquer idéia criativa sobre como deixar esse mundo...
É a coisa mais assustadora que existe. Quem criou o argumento desse filme sabia o que estava deixando de mensagem.
Morremos de anestésicos. Grandes artistas morrendo ao procurar se anestesiar de tudo e de todos.
O futuro é o nada.
Desejamos o nada. É tudo tão cansativo. Ser ótimo, ser tolo, ser do contra, ser a favor, lutar, todo santo dia para ser quem somos sem medo da fogueira hoje, internética. Virtual, porém queima como qualquer fogo da época da inquisição.
Tudo tão ridículo.
Procurar liberdade nesse fogo todo. Mais fácil tomar uma cartela de Rivotril, anestesil, puta que parils.
Entrar em coma, como se pudéssemos só sentir em volta. Sem decisões, sem ter que provar droga alguma. Sem ter que usar tantas máscaras indesejáveis.
Em alguns momentos eu desejo mais o fogo me devorando viva por ser mais honesto. Me queimem, afinal.
Fogo purifica. Quem sabe possamos ser salvos para ao menos a próxima encarnação...
terça-feira, 21 de janeiro de 2014
Onírico
Veio num sonho, certa noite. Ela o amava. Ele a amava também. E ainda que essa coisa, o amor, fosse complicada demais para compreender e detalhar nas maneiras tortuosas como acontece, naquele momento em que acontecia dentro do sonho, era simples. Boa, fácil, assim era. Ela gostava de estar com ele, ele gostava de estar com ela. Isso era tudo. Dormiam juntos, no sonho, porque era bom para um e para outro estarem assim juntos, naquele outro espaço. Não vinha nada de fora, nem ninguém. Deitada nua no ombro também nu dele, não havia fatos. Dormiam juntos, apenas. Isso era limpo e nítido no sonho que ela sonhou aquela noite.
Deitada no ombro dele, ela via seu rosto muito próximo. Esse era o sonho, nada mais. E isso, mais tarde saberia, era o único fato do sonho inteiro: via o rosto dele muito próximo. Como um astronauta prestes a desembarcar veria a face da lua, mal reconhecendo o Mar da Serenidade perdido em poeira cinza, assim ela o via naquela proximidade excessiva, quase inumana de tão próxima. Fechasse os olhos — mas não os fecharia, pois já estava dormindo — guardaria contra as pálpebras cerradas um por um dos traços dele. Crateras miúdas com negros fios de barba despontando duros de dentro delas, molhadas gretas polpudas além das quais brilhava o branco duro dos dentes.
Coisas assim, ela via. E de olhos abertos, embora fechados, pois sonhava, protegia-o, protegiam- se no meio da noite. Tão simples, tão claro. E de alguma forma inequívoca, para sempre. Talvez ele tivesse passado um dos braços em tomo da cintura dela, quem sabe ela houvesse deitado uma das mãos sobre o ombro dele, erguendo os dedos até que tocassem no lóbulo de sua orelha. Em todos os dias que se seguiram à noite daquele sonho, e foram muitos, honestamente não saberia localizar outros detalhes. Pois enquanto dormia, naquela noite, tudo era só e apenasmente isso: dormiam juntos.
No centro da noite, no meio do sonho, no outro espaço.
sexta-feira, 29 de novembro de 2013
MULHERES CURADORAS
Erveiras, raizeiras, benzedeiras, mulheres sábias que por muito tempo andaram sumidas, ou até mesmo escondidas. Hoje retornam com um diploma de pós-graduação nas mãos e um sorriso maroto nos lábios. Seu saber mudou de nome. Chamam de terapia alternativa, medicina vibracional, fitoterapia, práticas complementares...são reconhecidas e respeitadas, tem seus consultórios e fazem palestras.
As mulheres curadoras fazem parte de um antigo arquétipo da humanidade. Em todas as lendas e mitos, quando há alguém doente ou com dores, sempre aparece uma mulher idosa para oferecer um chazinho, fazer uma compressa, dar um conselho sábio. Na verdade, a mulher idosa é um arquétipo da ‘curadora’, também chamada nos mitos de Grande Mãe.
Não tem nada a ver com a idade cronológica, porque esse é um arquétipo comum a todas as mulheres que sentem o chamado para a criatividade, que se interessam por novos conhecimentos e estão sempre a procura de mais crescimento interno. Sua sabedoria é saber que somos “obras em andamento’, apesar do cansaço, dos tombos, das perdas que sofremos... a alma dessas mulheres é mais velha que o tempo, e seu espírito é eternamente jovem.
Talvez seja por isso que, como disse Clarissa Pinkola, toda mulher parece com uma árvore. Nas camadas mais profundas de sua alma ela abriga raízes vitais que puxam a energia das profundezas para cima, para nutrir suas folhas, flores e frutos. Ninguém compreende de onde uma mulher retira tanta força, tanta esperança, tanta vida. Mesmo quando são cortadas, tolhidas, retalhadas, de suas raízes ainda nascem brotos que vão trazer tudo de volta à vida outra vez.
Por isso entendem as mulheres de plantas que curam, dos ciclos da lua, das estações que vão e vem ao longo da roda do sol pelo céu. Elas tem um pacto com essa fonte sábia e misteriosa que é a natureza,. Prova disso é que sempre se encontra mulheres nos bancos das salas de aula, prontas para aprender, para recomeçar, para ampliar sua visão interior. Elas não param de voltar a crescer...
Nunca escrevem tratados sobre o que sabem, mas como sabem coisas! Hoje os cientistas descobrem o que nossas avós já diziam: as plantas têm consciência! Elas são capazes de entender e corresponder ao ambiente à sua volta. Converse com o “dente-de-leão” para ver... comunique-se com as plantas de seu jardim, com seus vasos, com suas ervas e raízes, o segredo é sempre o amor.
Minha mãe dizia que as árvores são passagens para os mundos místicos, e que suas raízes são como antenas que dão acesso aos mundos subterrâneos. Por isso ela mantinha em nossa casa algumas árvores que tinham tratamento especial. Uma delas era chamada de “árvore protetora da família”, e era vista como fonte de cura, de força e energia. Qualquer problema, corríamos para abraçá-la e pedir proteção.
O arquétipo de ‘curadora’ faz parte da essência do feminino, mesmo que seja vivenciado por um homem. Isso está aquém dos rótulos e definições de gênero. Faz parte de conhecimentos ancestrais que foram conservados em nosso inconsciente coletivo. Perdemos a capacidade de olhar o mundo com encantamento, mas podemos reaprender isso prestando atenção nas lendas e nos mitos que ainda falam de realidades invisíveis que nos rodeiam. Um exemplo? Procure saber mais sobre os seres elementais que povoam os nossos jardins e as fontes de águas... fadas, gnomos, elfos, sílfides, ondinas, salamandras...
As “curadoras’ afirmam que podemos atrair seres encantados para nossos jardins! Como? Plantando flores e plantas que atraiam abelhas e borboletas, gaiolas abertas para passarinhos e bebedouros para beija-flores. Algumas plantas ‘convidam’ lindas borboletas para seu jardim, como milefólio, lavanda, hortelã silvestre, alecrim, tomilho, verbena, petúnia e outras. Deixe em seu jardim uma área levemente selvagem, sem grama, os seres elementais gostam disso. Convide fadas e elfos para viverem lá. Lembre-se: onde você colocar sua percepção e sua consciência, a energia vai atrás.
Mani Alvarez
Coordenadora do curso de pós-graduação
em Práticas Complementares em Saúde
Início em 14/15 de julho
www.clasi.org.br
RITUAL PARA CRIAR UM CAMPO DE ENERGIA EM SUA CASA
v Escolha uma planta para ser a Planta Protetora de sua casa.
v Batize-a, perguntando-lhe o nome. O nome que vier à sua cabeça é este que ela está lhe falando. Isso é importante, porque você está estabelecendo um primeiro relacionamento com sua planta.
v Converse com ela, conte-lhe alguma coisa – pode ser um sonho, um desejo ou uma intenção para a energia de sua casa.
v Todas as vezes que for regar a planta, pense na sua intenção e reforce o seu propósito.
v Agradeça sempre pela energia que ela está emanando para sua casa. Diga:
Obrigada, Espírito da minha Planta Protetora, por você estar energizando essa casa. Este simples gesto significa que você confere existência e poder à sua Planta Protetora.
Este artigo foi publicado pelo Jornal 100% Vida de maio/2012
domingo, 14 de julho de 2013
Honestamente, uma pessoa que vc considera vem e lhe faz um comentário tão desnecessário e tão besta que não dá mesmo pra ficar desenhando mercado de moda pra quem não tem a menor compreensão disso!
É fácil demais criticarem sem o mínimo de conhecimento, o que você faz para viver se estamos já complicados absurdamente com a vida e a luta para viver e não sobreviver....
É fácil sermos "conceituais" dentro do que a nossa mente pode criar e nossa competência pode fazer, SE tivermos investimento. Sem dinheiro e investidores acreditando no seu potencial e no seu produto, não DÁ PARA SER CONCEITUAL.
Então, respeitem o que há no mercado para ser feito. Tenho mil problemas para atuar como gostaria na moda neste momento. Já provei que consigo, mas ah, tenha dó. Se não trabalha com isso, não me fale bobagem... Óbvio que luto para viver do que amo fazer!
Tem muita gente de alto bom gosto e chiquérrima que vive de camelô e feira, normaaaal. E se eu tiver que ser assim não ligo também não que isso sustentará financeiramente meus sonhos e criações que considerarei BÁRBARAS.
Antes viesse de uma pessoa extremamente conceituada e vencedora...
Ponto final.
terça-feira, 2 de agosto de 2011
Dzi Croquettes!!!
http://www.youtube.com/watch?v=Otch5bIi8L8
Poucas coisas me emocionaram tanto esses últimos tempos quanto o documentário realizado por Tatiana Issa sobre o grupo extraordinário e indefinível chamado Dzi Croquettes.
Esse povo de hoje não sabe de nada!
Em um mundo povoado de bibinhas lokas que acham Lady Gaga o máximo, Restarts, etc. Achamos que não temos mais referências artísticas e de expressão decentes.
Daí vem um documentário como este arrebentando a sua noção do que aconteceu neste país durante uma ditadura repressora, onde a censura reinava em todos os aspectos da nossa expressividade.
Os Dzi eram absurdamente talentosos, cultos, com corpos incríveis.
Nem homens, nem mulheres. Só gente.
Arrastaram montes de seguidores em seus shows, inventaram palavras e expressões usadas em nosso vocabulário corriqueiro até hoje, arrebentaram em Paris conquistando a Europa, quase foram pra Broadway! Alguém acredita que isso aconteceu aqui?
Assisti com minha mãe o filme, ela ficou emocionada pra caramba, pois havia conhecido alguns dos integrantes em Brasília, entre eles Claudio Gaia. E eu, assim como Tatiana Issa, identifiquei seus aspectos emocionais com os meus, pois comigo acontecera algo parecido, também cresci envolvida com teatro, apresentações, atores, gays.
Como não acontece mais algo tão extraordinário como aquilo?
Memória curta deste país.
Agradeço imensamente por este filme, nele pude identificar muitos aspectos perdidos dentro de mim.
E é obrigatório a qualquer um que queira saber o que o "tabuleiro" do nosso Brasil tem pra nos inspirar.
Poucas coisas me emocionaram tanto esses últimos tempos quanto o documentário realizado por Tatiana Issa sobre o grupo extraordinário e indefinível chamado Dzi Croquettes.
Esse povo de hoje não sabe de nada!
Em um mundo povoado de bibinhas lokas que acham Lady Gaga o máximo, Restarts, etc. Achamos que não temos mais referências artísticas e de expressão decentes.
Daí vem um documentário como este arrebentando a sua noção do que aconteceu neste país durante uma ditadura repressora, onde a censura reinava em todos os aspectos da nossa expressividade.
Os Dzi eram absurdamente talentosos, cultos, com corpos incríveis.
Nem homens, nem mulheres. Só gente.
Arrastaram montes de seguidores em seus shows, inventaram palavras e expressões usadas em nosso vocabulário corriqueiro até hoje, arrebentaram em Paris conquistando a Europa, quase foram pra Broadway! Alguém acredita que isso aconteceu aqui?
Assisti com minha mãe o filme, ela ficou emocionada pra caramba, pois havia conhecido alguns dos integrantes em Brasília, entre eles Claudio Gaia. E eu, assim como Tatiana Issa, identifiquei seus aspectos emocionais com os meus, pois comigo acontecera algo parecido, também cresci envolvida com teatro, apresentações, atores, gays.
Como não acontece mais algo tão extraordinário como aquilo?
Memória curta deste país.
Agradeço imensamente por este filme, nele pude identificar muitos aspectos perdidos dentro de mim.
E é obrigatório a qualquer um que queira saber o que o "tabuleiro" do nosso Brasil tem pra nos inspirar.
segunda-feira, 1 de agosto de 2011
Fernando
Hoje estou meio saudosista de alguns amigos perdidos pelo tempo.
Pra mim não é algo melancólico demais pois eu realmente penso que se estamos aqui nesta vida, a dor não deve ser algo assustador, mas sim corriqueiro, disciplinador até. E agradeço por isso...
Eu me lembro das pessoas que se foram com alegria demais. Somente algumas eu lamento muito por não vê-las um pouco mais adiante, sabe?
É o caso de quem me lembrei hoje.
Fernando.
Na época em que me reencontrei com ele, eu tinha 10 anos, eu acho e ele oito.
Uma criança linda... olhos enormes e negros, bolonas de gude. Curiosidade por todos seus poros, lembro da carinha dele cheia de gotinhas d´agua com cabelos espetados e os cílios imensos grudados de água da piscina...
Nos reencontramos através de nossos pais no Clube de Engenharia em Goiânia. Passei minha infância neste clube, mas de repente, lá estava ele. Dentucinho. Inteligente pra caralho. Educado.
Pouco depois minha mãe e eu começamos a visitar a casa da família, a sairmos juntos. Não havia entendido até que mommy contou que ele estava doente. Que tínhamos que dar todo carinho e apoio a todos da família. Minha mãe sempre explicou essas coisas de forma simples e clara pra mim. Não eram fantasmas... Mas a visão da sombra da morte sobre aquele menino lindo me trouxe uma das formas mais lindas de doação e carinho que já tive. Eu jurei a mim mesma que ele não estaria só. Estaria lá sempre que eu pudesse.
Ficamos muito amigos, eu era amiga também da irmã dele, Andréa.
Dormia lá, acompanhei todo o processo. Fiquei ao lado dele o tempo todo que eu podia.
Em Janeiro daquele ano, ele que tinha um tumor cerebral em um lugar perto da meninge, não poderia ter isto extirpado em operação sem afetá-lo... Tentaram operá-lo de todas as formas... A mãe, maravilhosamente prendada, não compreendia pq aquilo estava acontecendo, enlouquecendo de alguma forma sorridente.
A casa sempre era feliz, evitavam sombras... mas depois de tantas tentativas e remédios ao extremo...
Ele, que tinha nove anos então (se não me engano), em uma cadeira de rodas sem conseguir falar direito, balbuciava sons com tantos remédios. Pensava e idealizava, sonhava como um adulto. Eu o compreendia... Com certo desespero pois sentia que ele estava se afastando de uma vida normal, acompanhando a evolução de sua lógica e idéias dia a dia. Ele cresceu como um foguete. Emocionalmente.
Pouco tempo depois, quando eu estava prestes a entrar de férias, Fernando falou comigo ao telefone em uma quinta feira pedindo que eu dormisse lá na casa dele. Não queria ficar sozinho, me pediu isso... Chorei pra caralho! Como minha mãe não entendia isso???? Eu tinha aula na sexta, minha mãe não deixou. Fiquei vazia.
Na sexta à tarde, com minha malinha pronta pra dormir na casa dele, ligaram e eu já sabia. Avisaram de sua morte.
Eu virei uma múmia. Parada de tristeza não quis ir ao enterro. Não me conformava de não ter estado lá, com ele.
Mas eu estava lá. Como sempre estou perto de quem amo. Mesmo longe. Hoje entendo isso.
São as mesmas bolas de gude marrons que vejo até hoje. Elas são felizes pra caramba em minha memória.
Eu amava meu amigo e muito.
Foi minha primeira perda real na vida. Maior que a de meu avô.
Hoje eu me lembrei dele e imaginei como ele poderia estar... simulação de algo inalcançável.
Vontade de trocar idéias infantis de mundo de bob com ele.
Amor e lembranças são eternos mesmo. E dor não é algo ruim como vêem por aí. É só algo que nos lembra o que temos de bom nesta vida. O contraste é absolutamente necessário em qualquer história para valorizarmos o que precisa ser valorizado.
Cada coisa no seu lugar e nós no meio delas todas...
Pra mim não é algo melancólico demais pois eu realmente penso que se estamos aqui nesta vida, a dor não deve ser algo assustador, mas sim corriqueiro, disciplinador até. E agradeço por isso...
Eu me lembro das pessoas que se foram com alegria demais. Somente algumas eu lamento muito por não vê-las um pouco mais adiante, sabe?
É o caso de quem me lembrei hoje.
Fernando.
Na época em que me reencontrei com ele, eu tinha 10 anos, eu acho e ele oito.
Uma criança linda... olhos enormes e negros, bolonas de gude. Curiosidade por todos seus poros, lembro da carinha dele cheia de gotinhas d´agua com cabelos espetados e os cílios imensos grudados de água da piscina...
Nos reencontramos através de nossos pais no Clube de Engenharia em Goiânia. Passei minha infância neste clube, mas de repente, lá estava ele. Dentucinho. Inteligente pra caralho. Educado.
Pouco depois minha mãe e eu começamos a visitar a casa da família, a sairmos juntos. Não havia entendido até que mommy contou que ele estava doente. Que tínhamos que dar todo carinho e apoio a todos da família. Minha mãe sempre explicou essas coisas de forma simples e clara pra mim. Não eram fantasmas... Mas a visão da sombra da morte sobre aquele menino lindo me trouxe uma das formas mais lindas de doação e carinho que já tive. Eu jurei a mim mesma que ele não estaria só. Estaria lá sempre que eu pudesse.
Ficamos muito amigos, eu era amiga também da irmã dele, Andréa.
Dormia lá, acompanhei todo o processo. Fiquei ao lado dele o tempo todo que eu podia.
Em Janeiro daquele ano, ele que tinha um tumor cerebral em um lugar perto da meninge, não poderia ter isto extirpado em operação sem afetá-lo... Tentaram operá-lo de todas as formas... A mãe, maravilhosamente prendada, não compreendia pq aquilo estava acontecendo, enlouquecendo de alguma forma sorridente.
A casa sempre era feliz, evitavam sombras... mas depois de tantas tentativas e remédios ao extremo...
Ele, que tinha nove anos então (se não me engano), em uma cadeira de rodas sem conseguir falar direito, balbuciava sons com tantos remédios. Pensava e idealizava, sonhava como um adulto. Eu o compreendia... Com certo desespero pois sentia que ele estava se afastando de uma vida normal, acompanhando a evolução de sua lógica e idéias dia a dia. Ele cresceu como um foguete. Emocionalmente.
Pouco tempo depois, quando eu estava prestes a entrar de férias, Fernando falou comigo ao telefone em uma quinta feira pedindo que eu dormisse lá na casa dele. Não queria ficar sozinho, me pediu isso... Chorei pra caralho! Como minha mãe não entendia isso???? Eu tinha aula na sexta, minha mãe não deixou. Fiquei vazia.
Na sexta à tarde, com minha malinha pronta pra dormir na casa dele, ligaram e eu já sabia. Avisaram de sua morte.
Eu virei uma múmia. Parada de tristeza não quis ir ao enterro. Não me conformava de não ter estado lá, com ele.
Mas eu estava lá. Como sempre estou perto de quem amo. Mesmo longe. Hoje entendo isso.
São as mesmas bolas de gude marrons que vejo até hoje. Elas são felizes pra caramba em minha memória.
Eu amava meu amigo e muito.
Foi minha primeira perda real na vida. Maior que a de meu avô.
Hoje eu me lembrei dele e imaginei como ele poderia estar... simulação de algo inalcançável.
Vontade de trocar idéias infantis de mundo de bob com ele.
Amor e lembranças são eternos mesmo. E dor não é algo ruim como vêem por aí. É só algo que nos lembra o que temos de bom nesta vida. O contraste é absolutamente necessário em qualquer história para valorizarmos o que precisa ser valorizado.
Cada coisa no seu lugar e nós no meio delas todas...
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