http://www.youtube.com/watch?v=Otch5bIi8L8
Poucas coisas me emocionaram tanto esses últimos tempos quanto o documentário realizado por Tatiana Issa sobre o grupo extraordinário e indefinível chamado Dzi Croquettes.
Esse povo de hoje não sabe de nada!
Em um mundo povoado de bibinhas lokas que acham Lady Gaga o máximo, Restarts, etc. Achamos que não temos mais referências artísticas e de expressão decentes.
Daí vem um documentário como este arrebentando a sua noção do que aconteceu neste país durante uma ditadura repressora, onde a censura reinava em todos os aspectos da nossa expressividade.
Os Dzi eram absurdamente talentosos, cultos, com corpos incríveis.
Nem homens, nem mulheres. Só gente.
Arrastaram montes de seguidores em seus shows, inventaram palavras e expressões usadas em nosso vocabulário corriqueiro até hoje, arrebentaram em Paris conquistando a Europa, quase foram pra Broadway! Alguém acredita que isso aconteceu aqui?
Assisti com minha mãe o filme, ela ficou emocionada pra caramba, pois havia conhecido alguns dos integrantes em Brasília, entre eles Claudio Gaia. E eu, assim como Tatiana Issa, identifiquei seus aspectos emocionais com os meus, pois comigo acontecera algo parecido, também cresci envolvida com teatro, apresentações, atores, gays.
Como não acontece mais algo tão extraordinário como aquilo?
Memória curta deste país.
Agradeço imensamente por este filme, nele pude identificar muitos aspectos perdidos dentro de mim.
E é obrigatório a qualquer um que queira saber o que o "tabuleiro" do nosso Brasil tem pra nos inspirar.
terça-feira, 2 de agosto de 2011
segunda-feira, 1 de agosto de 2011
Fernando
Hoje estou meio saudosista de alguns amigos perdidos pelo tempo.
Pra mim não é algo melancólico demais pois eu realmente penso que se estamos aqui nesta vida, a dor não deve ser algo assustador, mas sim corriqueiro, disciplinador até. E agradeço por isso...
Eu me lembro das pessoas que se foram com alegria demais. Somente algumas eu lamento muito por não vê-las um pouco mais adiante, sabe?
É o caso de quem me lembrei hoje.
Fernando.
Na época em que me reencontrei com ele, eu tinha 10 anos, eu acho e ele oito.
Uma criança linda... olhos enormes e negros, bolonas de gude. Curiosidade por todos seus poros, lembro da carinha dele cheia de gotinhas d´agua com cabelos espetados e os cílios imensos grudados de água da piscina...
Nos reencontramos através de nossos pais no Clube de Engenharia em Goiânia. Passei minha infância neste clube, mas de repente, lá estava ele. Dentucinho. Inteligente pra caralho. Educado.
Pouco depois minha mãe e eu começamos a visitar a casa da família, a sairmos juntos. Não havia entendido até que mommy contou que ele estava doente. Que tínhamos que dar todo carinho e apoio a todos da família. Minha mãe sempre explicou essas coisas de forma simples e clara pra mim. Não eram fantasmas... Mas a visão da sombra da morte sobre aquele menino lindo me trouxe uma das formas mais lindas de doação e carinho que já tive. Eu jurei a mim mesma que ele não estaria só. Estaria lá sempre que eu pudesse.
Ficamos muito amigos, eu era amiga também da irmã dele, Andréa.
Dormia lá, acompanhei todo o processo. Fiquei ao lado dele o tempo todo que eu podia.
Em Janeiro daquele ano, ele que tinha um tumor cerebral em um lugar perto da meninge, não poderia ter isto extirpado em operação sem afetá-lo... Tentaram operá-lo de todas as formas... A mãe, maravilhosamente prendada, não compreendia pq aquilo estava acontecendo, enlouquecendo de alguma forma sorridente.
A casa sempre era feliz, evitavam sombras... mas depois de tantas tentativas e remédios ao extremo...
Ele, que tinha nove anos então (se não me engano), em uma cadeira de rodas sem conseguir falar direito, balbuciava sons com tantos remédios. Pensava e idealizava, sonhava como um adulto. Eu o compreendia... Com certo desespero pois sentia que ele estava se afastando de uma vida normal, acompanhando a evolução de sua lógica e idéias dia a dia. Ele cresceu como um foguete. Emocionalmente.
Pouco tempo depois, quando eu estava prestes a entrar de férias, Fernando falou comigo ao telefone em uma quinta feira pedindo que eu dormisse lá na casa dele. Não queria ficar sozinho, me pediu isso... Chorei pra caralho! Como minha mãe não entendia isso???? Eu tinha aula na sexta, minha mãe não deixou. Fiquei vazia.
Na sexta à tarde, com minha malinha pronta pra dormir na casa dele, ligaram e eu já sabia. Avisaram de sua morte.
Eu virei uma múmia. Parada de tristeza não quis ir ao enterro. Não me conformava de não ter estado lá, com ele.
Mas eu estava lá. Como sempre estou perto de quem amo. Mesmo longe. Hoje entendo isso.
São as mesmas bolas de gude marrons que vejo até hoje. Elas são felizes pra caramba em minha memória.
Eu amava meu amigo e muito.
Foi minha primeira perda real na vida. Maior que a de meu avô.
Hoje eu me lembrei dele e imaginei como ele poderia estar... simulação de algo inalcançável.
Vontade de trocar idéias infantis de mundo de bob com ele.
Amor e lembranças são eternos mesmo. E dor não é algo ruim como vêem por aí. É só algo que nos lembra o que temos de bom nesta vida. O contraste é absolutamente necessário em qualquer história para valorizarmos o que precisa ser valorizado.
Cada coisa no seu lugar e nós no meio delas todas...
Pra mim não é algo melancólico demais pois eu realmente penso que se estamos aqui nesta vida, a dor não deve ser algo assustador, mas sim corriqueiro, disciplinador até. E agradeço por isso...
Eu me lembro das pessoas que se foram com alegria demais. Somente algumas eu lamento muito por não vê-las um pouco mais adiante, sabe?
É o caso de quem me lembrei hoje.
Fernando.
Na época em que me reencontrei com ele, eu tinha 10 anos, eu acho e ele oito.
Uma criança linda... olhos enormes e negros, bolonas de gude. Curiosidade por todos seus poros, lembro da carinha dele cheia de gotinhas d´agua com cabelos espetados e os cílios imensos grudados de água da piscina...
Nos reencontramos através de nossos pais no Clube de Engenharia em Goiânia. Passei minha infância neste clube, mas de repente, lá estava ele. Dentucinho. Inteligente pra caralho. Educado.
Pouco depois minha mãe e eu começamos a visitar a casa da família, a sairmos juntos. Não havia entendido até que mommy contou que ele estava doente. Que tínhamos que dar todo carinho e apoio a todos da família. Minha mãe sempre explicou essas coisas de forma simples e clara pra mim. Não eram fantasmas... Mas a visão da sombra da morte sobre aquele menino lindo me trouxe uma das formas mais lindas de doação e carinho que já tive. Eu jurei a mim mesma que ele não estaria só. Estaria lá sempre que eu pudesse.
Ficamos muito amigos, eu era amiga também da irmã dele, Andréa.
Dormia lá, acompanhei todo o processo. Fiquei ao lado dele o tempo todo que eu podia.
Em Janeiro daquele ano, ele que tinha um tumor cerebral em um lugar perto da meninge, não poderia ter isto extirpado em operação sem afetá-lo... Tentaram operá-lo de todas as formas... A mãe, maravilhosamente prendada, não compreendia pq aquilo estava acontecendo, enlouquecendo de alguma forma sorridente.
A casa sempre era feliz, evitavam sombras... mas depois de tantas tentativas e remédios ao extremo...
Ele, que tinha nove anos então (se não me engano), em uma cadeira de rodas sem conseguir falar direito, balbuciava sons com tantos remédios. Pensava e idealizava, sonhava como um adulto. Eu o compreendia... Com certo desespero pois sentia que ele estava se afastando de uma vida normal, acompanhando a evolução de sua lógica e idéias dia a dia. Ele cresceu como um foguete. Emocionalmente.
Pouco tempo depois, quando eu estava prestes a entrar de férias, Fernando falou comigo ao telefone em uma quinta feira pedindo que eu dormisse lá na casa dele. Não queria ficar sozinho, me pediu isso... Chorei pra caralho! Como minha mãe não entendia isso???? Eu tinha aula na sexta, minha mãe não deixou. Fiquei vazia.
Na sexta à tarde, com minha malinha pronta pra dormir na casa dele, ligaram e eu já sabia. Avisaram de sua morte.
Eu virei uma múmia. Parada de tristeza não quis ir ao enterro. Não me conformava de não ter estado lá, com ele.
Mas eu estava lá. Como sempre estou perto de quem amo. Mesmo longe. Hoje entendo isso.
São as mesmas bolas de gude marrons que vejo até hoje. Elas são felizes pra caramba em minha memória.
Eu amava meu amigo e muito.
Foi minha primeira perda real na vida. Maior que a de meu avô.
Hoje eu me lembrei dele e imaginei como ele poderia estar... simulação de algo inalcançável.
Vontade de trocar idéias infantis de mundo de bob com ele.
Amor e lembranças são eternos mesmo. E dor não é algo ruim como vêem por aí. É só algo que nos lembra o que temos de bom nesta vida. O contraste é absolutamente necessário em qualquer história para valorizarmos o que precisa ser valorizado.
Cada coisa no seu lugar e nós no meio delas todas...
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